Autora: Viviane França
Por nenhum momento as duas olharam para trás.
Por nenhum momento as duas olharam para trás.
Correndo pela mata ao lado de Manuela, Beatrice sentiu os pés pesarem. Cada passo tornara-se agora um suplício. A luta tinha lhe causado torções e escoriações pelo corpo. Um desconforto que aumentava à medida que os minutos passavam. Mas não era apenas ela quem estava exausta. Tão ferida quanto Beatrice estava Manuela que em silêncio se arrastava pela mata, tropeçando em pequenas pedras e indo de encontro a galhos baixos.
E então, depois de algum tempo, chegaram enfim à borda da Floresta. Encontrar a saída trouxe uma força até então desconhecidas pelas duas que sem se importarem mais com a dor, encontraram energia para correr. E correram até alcançarem o estacionamento da Reserva.
- Como... como você conseguiu sair com vida de dentro da Toca? – perguntou Beatrice.
- Bem... eu aproveitei da distração delas e corri.
- Mas e quanto às outras garotas? Elas ficaram dentro da Toca?
- Eu não sei. Mas acho que não podemos mais ajudá-las... – respondeu Manoela, a cabeça baixa fitando o rudimentar caminho.
- Não podemos! Mas por quê? O que foi que você viu?
Respirando fundo Manuela respondeu:
- Vi Bianca... foi ela quem as distraiu.
- A Bianca? Você tem certeza?
- Absoluta... acredite em mim.
- Quem não consegue acreditar que ainda estejam por aqui sou eu – soou a cristalina voz de Caleb.
Sua presença inesperada as fez sobressaltarem. E ele riu.
Encostado em um carro cinza, ele as observava com intensidade.
- Não tem graça. Você quase nos matou de susto! – reclamou Beatrice.
- Não será do coração que vocês irão morrer se não entrarem neste carro agora – disse ele e sua voz soou fria. - Não pensem que elas desistiram de caçá-las.
- Mas quem são elas afinal? – perguntou Manoela.
Ele de repente se resignou.
- São as Filhas da Lua. As Senhoras da Noite. Seres que caminham à Luz do Luar em busca de presas. Algumas para diversão, outras para se juntarem a elas.
- Ah – murmurou Beatrice.
Vendo que as duas jovens não compreendiam suas palavras, Caleb continuou.
- A cada três anos, as Filhas da Lua saem em busca de novos espíritos. É durante a fase da Lua Azul que o Véu entre os dois mundos, o material e o espiritual, está mais tênue.
- Continuo não entendendo – queixou-se Beatrice.
- Como uma descendente dos Imortais, você é um Ser valioso para elas.
- Eu sou o que?
- Beatrice... você já deve ter notado que seus sentidos são mais aguçados e seus momentos de insights reveladores – disse Caleb.
- Aguçados? Mas eu consigo me perder dentro dos corredores do colégio!
- Isso porque você ainda não aprendeu a discernir o espaço que ocupa do espaço que se apresenta à sua frente. Você tem o dom de enxergar através do véu. Uma habilidade que apenas nós Imortais possuímos - explicou Caleb. – Ao contrário das Senhoras da Lua, nós não precisamos aguardar pelo ciclo lunar para poder ver do outro lado.
E as duas jovens demoraram alguns minutos para absorverem o que Caleb dizia.
- Então eu fui convocada apenas para diversão? – concluiu Manoela com a voz embarcada.
- Você sim, mas Beatrice não – respondeu Caleb.
Por alguns instantes ele olhou a trilha à frente. A expressão inexpressiva.
- Eu sinto muito Beatrice. A culpa foi minha. Eu pensei... que você recusaria o convite. Mas vejo que me enganei. Você é mais inocente do que eu pensava.
Então ele parou por um momento e quando voltou a falar sua voz estava mais fria.
- Se você fosse um pouco mais atenta perceberia quem elas eram.
Então Caleb voltou o olhar para Manuela.
- Tenho agora uma dívida com você que viu mais do que deveria – e sua expressão ficou infeliz – Não posso deixá-la partir, mas não a calarei... o que nossa Lei exige que façamos... Portanto, você terá que vir conosco.
Por um momento Beatrice o encarou e uma centelha de medo passou pelo seu rosto.
- Mas iremos para onde? – perguntou ela.
- Para o outro lado do véu – respondeu ele. – Ali ficaremos até que o ciclo se complete. Agora entrem no carro. Nosso tempo se esgota... elas já estão a caminho.
Assustadas e confusas, as meninas obedeceram. E assim que deslizaram para dentro, Caleb ligou o motor. Girando a direção do carro para ficar de frente para a estrada principal, ele acelerou e partiu, atravessando uma azulada e fina névoa.