Diário de LeituraA assombração da Casa da Colina


“A Casa da Colina, desprovida de sanidade, se erguia solitária contra os montes, aprisionando as trevas em seu interior; estava desse jeito havia oitenta anos e talvez continuasse por mais oitenta. Lá dentro, paredes continuavam de pé, tijolos se juntavam com perfeição, assoalhos estavam firmes e portas estavam sensatamente fechadas; o silêncio se escorava com equilíbrio na madeira e nas pedras da Casa da Colina, e o que entrasse ali, entrava sozinho.”

Medo ou Loucura? O leitor se questiona a cada página lida da obra. Será que a Casa da Colina possui vida ou será tudo uma criação da mente da doce e frágil Eleanor Vance?

Convidada pelo respeitável acadêmico, o Dr. John Montague, para uma estadia na casa, ao lado da excêntrica Theodore e do espirituoso Luke Sanderson, Eleanor deixa a casa de sua irmã, sem dizer para onde está indo, sem se importar em “roubar” o carro, do qual ela e a irmã são donas, e seguir viagem. Em poder acelerar, pegar a estrada, deixar a cidade para traz e conhecer o mundo.

E assim que chega a casa e o zelador, Sr. Dudley, permite que ela atravesse os pesados portões da propriedade, Eleanor pressente que ela, talvez, não devesse estar ali. “(...) A Casa da Colina é repugnante, é doente; vai correndo embora daqui (...)”, diz Eleanor para si mesmo.

Mas à medida em que as horas e os dias passam, Eleanor começa a nutrir um sentimento pelo lugar. Sentimento não compartilhado pelos demais integrantes do grupo que começam a se preocupar com as suas palavras e com o seu comportamento.

Será que as visões e vozes que Eleanor vê e ouve são reais ou apenas frutos de sua imaginação?

Para o leitor, as ações e diálogos trocados pelos personagens podem ser reações causadas pelo isolamento e pela história da Casa considerada por muitos, como um lugar maligno, mal-assombrado. Mas será que os longos corredores, as pesadas portas que se fecham sozinhas e os infinitos cômodos guardados por detrás de grossas paredes possuem vida? Há alguma manifestação paranormal? Por que ela afeta tanto a reservada e tímida Eleanor?

Com apenas poucos personagens em cena, a autora Shirley Jackson (1916 – 1965), considerada uma das autoras americanas mais influenciáveis do século XX, cria uma história intrigante que conquista o leitor desde sua primeira página. 

(A assombração da Casa da Colina de Shirley Jackson – Tradução de Débora Landsberg – Editora Alfaguara/julho/2021 – 200 págs.)