Há livros que são capazes de incomodar. Essa é a palavra certa para definir como o leitor se sentirá ao ler as obras de C.J.Tudor - lançadas no país pela editora Intrínceca -, pois a autora desenvolve suas histórias com maestria. Suas narrativas são cruas e, por vezes, essa crueldade é quem dá veracidade aos acontecimentos. O leitor se vê, durante a leitura, com receio de virar as páginas e seguir em frente.
Em O Homem de Giz, a autora conta a história alternando passado com presente para acompanharmos o dia-a-dia de um grupo de crianças – Eddie Monstro, Gav Gordo, Mickey Metal, Hoppo (David Hopkins) e Nicky – na década de 1986. A história, narrada por Eddie, agora um adulto de 42 anos, convida o leitor a vivenciar suas lembranças. Sua época de criança, quando ele e seu grupinho passavam as tardes no boque, andavam de bicicleta, iam ao parque e trocavam mensagens através de desenhos de giz riscados no asfalto.
Mas superar o passado não é algo que o adulto solitário Eddie conseguiu ao longo dos anos. Foi durante sua infância que ele e seus amigos encontraram um corpo desmembrado no bosque de sua pequena cidade. E apesar de cada um deles estar nos dias atuais, 2016, vivendo sua própria vida, o recebimento de uma carta fará com que aqueles dias, agora tão longínquos, retorne para um acerto de contas.
Para quem viveu os anos 80 – época da minha infância e da autora também – reencontrá-lo é retornar para uma vida tranquila, em que chamar um amigo para brincar era ir de bicicleta à casa dele. Sem internet e celulares, as brincadeiras ocorriam fora de casa. Ir ao parque sozinho não representava nenhum perigo. Você conhecia os pais de seus amigos e eles os seus pais. E comer doces e ir ao cinema era o passeio de fim-de-semana.
Já em Garotas em Chamas, a história se passa na pequena cidade chamada Chapel Croft. Um lugar que oculta muitas histórias que os habitantes preferem guardar para si mesmos. Mártires protestantes queimados em fogueira há cinco séculos, adolescentes desaparecidas, exorcismos e mortes envolvidas em mistérios.
É neste ambiente que a reverenda Jack Brooks chega com sua filha adolescente para assumir a paróquia local, já que o seu antecessor se enforcou na nave da igreja. Com três narradores – a reverenda Jack Brooks, sua filha Flo e um misterioso homem – Tudor conduz o leitor por uma trama cheia de segredos e revelações.
Assim como em seus livros anteriores, a autora mescla suspense com mistério. Mas ao contrário do thriller de suspense “O Homem de Giz”, Tudor desenvolve a história de “Garotas em Chamas” com uma narrativa mais crua e macabra que incomoda. Em alguns capítulos a crueldade dos personagens despertaram um mal-estar, uma inquietação que apenas os fãs do estilo de escrita da autora irão vibrar.
