Há
alguma coisa lá fora que não deve ser vista
O
medo pode nos cegar a ponto de nos privarmos de observar o mundo sem uma venda
nos olhos?
Cinco
anos se passaram desde que os sobreviventes fecharam as portas e taparam as
janelas de suas casas com cobertores. Sem saber em quem confiar, eles não saem
mais às ruas, não sem uma venda nos olhos. Caminhar de olhos descobertos
significa ser levado a cometer atos violentos e se suicidar. Há alguma coisa lá
fora. Uma criatura que não deve ser vista. Mas que criatura? Ninguém sabe.
Sozinha,
dentro de uma casa abandonada, próxima de um rio no Michigan, Estados Unidos,
Maloire e seus dois filhos pequenos se escondem por detrás dos lençóis das
janelas. Há quatro anos atrás, um grupo liderado por Tom, seu melhor amigo, viveram
naqueles cômodos, agora vazios. Mas Maloire sabe que precisa arriscar-se e
deixar a casa. As crianças precisam de um lugar seguro. É quando ela vê, no
surgimento de uma misteriosa neblina, a oportunidade de sair. Com os olhos
vendados, contando apenas com sua coragem e com os ouvidos treinados e
sensíveis dos filhos, Maloire entra em um pequeno barco a remo. Serão 32
quilômetros rio abaixo, às cegas, até o local onde espera que ela e as crianças
ficarão em segurança. Mas em um determinado ponto do rio, para encontrar o
caminho, Maloire terá que abrir os olhos.
“(...)
O rio vai se dividir em quatro canais. O que você precisa pegar é o segundo à
direita. Então não adianta se agarrar à margem direita e torcer para conseguir
chegar. É complicado. E você vai ter que abrir os olhos. Malorie balança a
cabeça devagar. Não.”
O
thriller Caixa de Pássaros de Josh Malerman, que a editora Intrínseca lança,
leva o leitor a acompanhar a protagonista e vivenciar com ela, suas alegres e
dolorosas lembranças. Alternando passado e presente, conhecemos a vida da narradora
antes de sua chegada à casa e após o surto que matou todos seus parentes e
amigos. O querido Tom, Jules, Don, Cheryl, Felix e Olympia.
O suspense em cada capítulo é tão angustiante
quanto acompanhar Felix ou Tom em sua caminhada, às cegas, até o poço de água a
alguns metros da casa. Será que eles estão sozinhos ou caminham acompanhados
por uma das criaturas?
Mas
o que o leitor se pergunta durante a leitura é se eles devem temer algo que nem
conseguem definir o que é. Esconder-se por detrás de uma venda e manter os
olhos fechados é a única coisa que eles podem fazer? Isso é o suficiente para
mantê-los vivos? Não para alguns.
“(...)
Bem, alguma coisa tem que mudar – afirma Tom. – Precisamos progredir. Caso
contrário, ficaremos esperando notícias em um mundo onde não há mais notícias.”
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Josh Malerman |
Caixa
de Pássaros
1ª
edição/2014 - Ficção – 272 págs.
Tradução
de Carolina Selvatici
Impresso
e E-book
Editora
Intrínseca